Coluna Lya Alves: Encontro com mestre Israel Pedrosa




Domingo ensolarado, cansada de pintar a semana toda pra exposição fui relaxar. E oque eu faço pra relaxar? Graffiti. Chamei Blunt, que convocou seu primo e Mac. A idéia era terminar o painel que começamos (eu terminei, mas Blunt queria algo mais). Blunt e Mac estão organizando a "Arte Viva", na parte de serigrafia. As camisas estão ficando lindas, dá o maior orgulho de ver!

Conheci Blunt quando ele foi na minha oficina na PUMA fazer aulas de graffiti. Ele também dava aula na FENASE, mas sempre gosta de conhecer gente nova. A oficina na PUMA terminou, ficamos amigos. Incentivei ele a seguir o estreito caminho da arte em detrimento da vida segura de salário-mínimo-e-carteira-assinada. Sempre falando que ele devia acreditar em si mesmo e não naqueles que não acreditavam nele. A função da oficina basicamente era esta: descobrir os talentos e incentivar. Graffiti se aprende na rua. Mas incentivo é com o professor. Então falei para ele buscar meios de ganhar dinheiro com o trabalho dele e não depender apenas de quadros, telas, ou painéis. De repente, apareceu uma senhora querendo que ele fizesse camisas.Ele não sabia fazer serigrafia. Aí foi a vez de André, meu marido. André ensinou ele a montar uma oficina de serigrafia. Ele se juntou com uns amigos(Mac é um deles) e agora estão trabalhando nisso.
Escolhemos o tema: ação social. Eu estava a fim de fazer o beija-flor e uma flores bem inocentes e suaves.A gente ia fazer uma cidade em chamas, mas a quantidade de tinta determinou a mudança no painel  e cada um fez oque queria, afinal liberdade de expressão é oque importa. Estávamos quase no final, quando um senhor ficou conversando com Blunt por muito tempo. fui do outro lado da rua, onde ele estava para tirar foto e ele me disse que o senhor que estava conversando com ele também era artista. Perguntei quem era. "Ah, não sei, mas ele foi buscar água pra gente, pergunta pra ele".
Ok, aquela casa era de um artista, eu sabia disso. Nunca me ocorreu ir até lá pra saber ou puxar assunto. Mas o graffiti tem essa característica de aproximar as pessoas, que se sentem muito à vontade pra conversar com a gente.  Quando o gentil senhor voltou, muito sorridente, muito simpático, perguntei seu nome, ao que ele respondeu muito humildemente:
-Israel Pedrosa.
Meu queixo caiu, mas consegui falar esta frase de altíssimo teor cultural:
-Caraca!
Tentei me consertar, mas não consigo mesmo esconder minhas emoções, então nem tentei melhorar.

Israel Pedrosa, nascido em1926. Foi o mais jovem integrante da FEB, na Itália. Discípulo de Cândido Portinari, estudou na escola superior de Belas Artes de Paris entre 1948 e 1950.fundador da Cadeira de História da Arte na UFF, consultor ad hoc do Conselho Nacional de Desenvoilvimento Científico e Tecnológico, sócio honorário da Associação Brasileira de Críticos da Arte. Autor do Livro "Da Cor à cor inexestente"(dou aula sobre isso quando entramos no Estudo de Cores). Tem realizado inúmeras exposições no Brasil e no exterior e há mais de doze anos vem escrevendo textos e pintando réplicas de obras de grandes mestres da pintura universal para o esperado livro: "as dez aulas magistrais"".
Desenvolveu estudos teórico-práticos relativos às manifestações das cores de contraste, chegando em 1967 às conclusões básicas do domínio do fenômeno que denominou Cor Inexistente. Publicou o livro Da Cor à Cor Inexistente em 1977, pela Editora Leo Christiano, relatando os preceitos de sua teoria. Em 1978 foi indicado pelo Itamaraty para representar o Brasil no Salão do Livro de Montreal.

É citado em ampla bibliografia sobre arte brasileira, tendo como material mais significativo , dois livros de Jacob Klintowitz, O Ofício da Pintura (Editora do Sesc), A Cor Inexistente e o Aprendiz do Novo (Editora Odisséia), citações no Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, de Roberto Pontual (Editora Civilização Brasileira) e no Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos, publicado pelo MEC. Também teve sua obra comentada na Grande Enciclopédia (Editora Delta), e na Larousse Cultural - Brasil de A / Z (Editora Universo), bem como na publicação do acervo da Fundação Armando Álvares Penteado (Editora Arte Aplicada). Foi agraciado com o Prêmio Thomas Mann, instituído pela Embaixada da Alemanha, tendo o estudo apresentado, O Esboço de uma Teoria das Cores de Goethe, sido traduzido para o alemão no ano de 1973. Recebeu ainda o Prêmio Hilton de Arte da década de 70, que homenageou dez dos mais destacados artistas brasileiros. É autor do verbete monográfico "Cor" da Enciclopédia Mirador Internacional (Britânica do Brasil) em 1978.

E como se fossem poucas as surpresinhas do dia,é herói de guerra.  Foi condecorado com: a "Medalha de Campanha da Força Expedicionária Brasileira - FEB na Itália", 1945; a "Medalha de Guerra", 1947; a "Ordem do Mérito Cultural José Geraldo Bezerra de Menezes", do Município de Niterói, 1988; a "Medalha Tiradentes", conferida pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, 1994, e foi agraciado com o "Grau de Oficial da Ordem do Rio Branco", pelo Ministério das Relações Exteriores, 1996. Em 1948, na qualidade de Vice-Presidente da Fédération Mondial des Anciens-Combattants, recebeu o título de "Hóspede da Cidade de Paris" e, em 1994, o título de "Cidadão Honorário de Niterói". Em 1973 foi um dos vencedores do Prêmio Thomas Mann, instituído pela Embaixada da República Federal da Alemanha e, em 1980, recebeu o "Prêmio Hiltonm de Pintura - Década de 70".
- Eu falo de você na minhas aulas! Eu faço oficina de graffiti e quando estudamos a cor, eu falo sobre "A cor inexistente".
Ele sorriu:
-Ah, então você me conhece ?
- Claro! Puxa, ontem estava pensando no senhor. Saiu matéria sobre o senhor na agenda cultural de Niterói, eu estava lendo ontem e pensei: poxa, ele deve morar na Alemanha, ou em algum lugar do outro lado do mundo...
- Eu vim pra Niterói pra me esconder.No Rio ninguém me deixa trabalhar- disse ele com um risinho preso nas bochechas rosadas.
- Eu tenho seu livro: "Da cor à cor inexistente"
-Ah, então você conhece meu trabalho?
- Claro Eu roubei seu livro!-eu e minha boca grande, pensei. - Quero dizer, explico: um amigo me emprestou e eu não vou devolver nunca mais, não é exatamente um roubo.
- Este jovem, quem é?-perguntou sobre o André.
-É meu marido.
 - Ah, então venham conhecer meu ateliê e eu vou te dar um livro meu.
-Autografado, por favor!
E subimos e vimos as obras que estão sendo preparadas para seu livro "As dez aulas magistrais", vimos seu escritório, onde faz as pesquisas, batemos um papo, enquanto os meninos terminavam lá embaixo. Descemos e eu pedi para tirar fotos com ele. Eu disse:"meninos, estamos entrando pra história de Niterói". Israel Pedrosa disse: "... e de outras pairagens, também..."






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